Autores: Aline Daniele Garcia Ciola, Eduardo Caetano*
Você nunca deve ter ouvido o termo “defenestração”. Esta palavra quase esquecida foi relembrada em 1981 pelo escritor Luis Fernando Veríssimo na crônica “defenestração”. De acordo com o texto, “defenestrar é o ato de atirar ou arremessar algo ou alguém pela janela”. O que acontece com um objeto ou pessoa defenestrados?
Um objeto atirado de uma janela sofre duas forças: o peso e o atrito com o ar. O atrito com o ar também é chamado de “resistência do ar”. O peso acelera o corpo rumo ao solo. Já o atrito com o ar desacelera o corpo. A velocidade do corpo ao atingir o solo depende da combinação da aceleração do peso com a desaceleração do atrito com o ar.
Por exemplo, uma folha de papel sofre muito atrito com o ar. A velocidade de uma folha de papel em queda sempre é pequena. Ao atingir o solo ou uma pessoa, uma folha de papel atirada do décimo andar de um prédio não provocará nenhum ferimento. Ainda assim, uma folha de papel pode aderir ao capacete de um motociclista ou ao vidro da frente de um carro. Neste caso, a folha de papel pode causar um acidente grave.
Uma bola de papel amassado sofre bem menos atrito do que uma folha. Assim, a bola de papel pode acelerar até o solo. Em geral, objetos com formas arredondadas passam pelo ar com pouco atrito, acelerando o máximo possível até o solo. Por exemplo, ovos de galinha, vasos, bolas de futebol, chaves de fenda e pedras de gelo recebem pouca resistência do ar.
Um objeto que sofre pouca resistência do ar pode atingir velocidades de dezenas de quilômetros por hora (km/h). Por exemplo, um objeto atirado do sexto andar de um edifício (aproximadamente 20 metros) poderá tocar o solo com uma velocidade de 72 km/h. Um vaso, um ovo, uma pedra de gelo ou uma bola a 72km/h podem causar ferimentos fatais.
Com a verticalização das grandes cidades, os edifícios com mais de 20 andares ficaram mais comuns. Tais edifícios tem mais de 60m. Um objeto largado acima de 45m de altura pode atingir uma velocidade maior do que 108km/h. Ovos, vasos, bolas, chaves de fenda e pedras de gelo a velocidades superiores a 108km/h podem provocar ferimentos fatais.
Infelizmente, muitas pessoas desconhecem os perigos da defenestração. Vasos de plantas são deixados nas janelas dos apartamentos das grandes cidades. Crianças “brincam” de atirar objetos das janelas nos pedestres e nos carros. Garrafas com produtos de limpeza são deixadas em janelas que acabaram de ser limpas. Tudo isso pode terminar em morte. Um objeto defenestrado é uma verdadeira arma.
O corpo humano também sofre pouco atrito com o ar. Uma pessoa que cai de uma janela pode atingir o solo com velocidades iguais a de seus veículos nas estradas. Por exemplo, a queda de uma pessoa do sexto andar de um edifício também termina com uma velocidade de cerca de 72km/h. O resultado é pior do que uma batida de carro na mesma velocidade. No carro, existe o cinto de segurança e talvez o airbag. Já uma pessoa que atinge o solo com 72km/h não conta com nenhuma proteção. Uma queda dessas geralmente é fatal.
Se você mora em um edifício, pare um pouco e observe suas janelas. Há objetos no parapeito da janela que possam cair? Há proteção que impeça a queda de uma criança pequena? As crianças maiores foram orientadas sobre os perigos mortais da defenestração? Funcionários que trabalham com a manutenção do edifício possuem equipamentos de segurança adequados? Existe alguém na sua residência que tem tendências suicidas? De agora em diante, providencie para que ninguém se machuque.
Defenestrar é perigoso e pode ser fatal!
*Aline Daniele Garcia Ciola e Eduardo Caetano são estudantes do Curso de Ciências - Física da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) campus de Diadema.